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http://www.gabrielaalbergaria.com/
Abracadárvore
Gabriela Albergaria
Do Éden à Babilônia, imagem poética dos jardins já rendeu muito material para o imaginário coletivo e, mais ainda, para a inspiração artística. Seja como símbolo da supremacia do conhecimento humano e de seu poder de intervenção na natureza ou como exemplo de ambientes artificiais destinados à contemplação, os jardins já serviram de inspiração para grandes nomes como Monet e Bosch. Trabalhando em um contexto muito diferente, a artista portuguesa Gabriela Albergaria chega à Bahia para participar do Programa de Residências Artísticas do Museu de Arte Moderna (MAM), instituição ligada ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), órgão da Secretaria de Cultura.
Integrando o calendário especial de atividades da Semana Nacional dos Museus do MAM, Gabriela Albergaria ministra de 13 a 16 de maio um workshop com 20 estudantes do Colégio Ipiranga, no qual demonstra algumas das técnicas que emprega no seu trabalho de recomposição das árvores. O resultado do workshop e da residência que a artista faz até o dia 28 de maio, pode ser conferido na exposição Abracadárvore, que entra em cartaz a partir do dia 26 de junho, na Galeria 3 do MAM, à partir das 19h. Para os que ficarem mais intrigados, no dia 27 haverá ainda uma conversa com a artista.
Em um mundo acostumado a destruir a si mesmo, que tenta congregar as diferenças, as arvores de Gabriela são um verdadeiro libelo contra a brutalidade, um conjunto magnífico formado a partir da relação com o outro, a salvação pelo amálgama e da possibilidade de evolução. “Um dos meus pontos de interesse é a colonização das plantas em território adverso, como metáfora de uma idéia de desenvolvimento social e de evolução do homem.”
Formada pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e passando por períodos de residência em Paris e Berlim, Gabriela que expôs também no Canadá e na Espanha, e que, no Brasil, é representada pela renomada Galeria Vermelho, cria, através de seus “jardins” e de seu interesse por plantas e pela botânica, trabalhos tão ricos em significado quanto o seu primeiro referente óbvio. Na verdade, nem tudo no trabalho de Gabriela são jardins, ela promove verdadeiras intervenções em árvores mortas e pedaços de madeira, recompondo sua estrutura, misturando arvores diferentes e “construindo” o que até hoje só se pode ver por obra da própria natureza. Trabalho que ela realiza em sua residência no MAM, que durante este período funcionará também como seu ateliê.
A recomposição destas árvores implica uma reinterpretação e sugere um tipo de “estética da reparação”, a idéia de tentar refazer algo que, de certa forma, foi destruído pela ação de outro (o homem ou o tempo). É um elogio da delicadeza, construído através de rudes emendas, que remetem tanto a ligação quanto a ruptura. É com este tipo de paradoxo que o observador se depara quando está em contato com o trabalho de Albergaria, uma artista que usa a própria intervenção para recompor (e reinventar) o que foi destruído pela “intervenção” de outro, algo que não se pode definir só como uma crítica à interferência humana ou apenas como uma reflexão sobre os modos fazê-la.
Outro aspecto da reflexão presente no trabalho de Gabriela diz respeito à diversidade, à importância da mistura, da hibridização ou – usando um termo mais apropriado ao objeto em questão – do enxerto. Em Portugal, Gabriela Albergaria trabalhou com árvores dos jardins tropicais, nos quais se cultivam plantas originárias das antigas colônias portuguesas, principalmente do Brasil.
A composição com o material encontrado nos jardins tropicais revela um verdadeiro mosaico da colonização e traz um novo referente para a idéia de intervenção através do trabalho desta portuguesa que usa as árvores das antigas colônias para criar beleza através da matéria morta, fala muito sobre as relações de dominação e fragilidade.
Segundo a própria Gabriela o resultado exposto em Abracadárvore (termo retirado da obra do poeta Jacques Prévert) “tenta mais uma vez refletir sobre este momento de artificialidade e de uma poética da natureza, na sua dimensão metafórica de reparação, reconstrução. E uma atenção a determinados fatores históricos, políticos e sociais”.
Gabriela Albergaria
Artista
Disponível em: http://www.mam.ba.gov.br/expos2008/gabrielaalbergaria/
Ver mais: http://www.mam.ba.gov.br/expos2008/gabrielaalbergaria/
http://verbover.blogspot.com/2005/12/gabriela-albergaria-no-capc.html
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